Conheça a proposta para colocar os créditos de CO2 no blockchain

Objetivo das regras é garantir transparência para negociações dos ativos em plataformas digitais

Conheça a proposta para colocar os créditos de CO2 no blockchain
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A Verra, entidade que certifica e registra a maior parte dos créditos de carbono transacionados no mercado voluntário no mundo, publicou hoje a proposta de regras para que seus créditos possam ser negociados em plataformas de blockchain.

Em maio, a entidade havia proibido temporariamente o método improvisado desenvolvido por algumas companhias, incluindo a brasileira Moss, para negociar os créditos utilizando instrumentos cripto.

Assim como no mercado das criptomoedas, houve um crescimento explosivo na tokenização dos créditos de carbono a partir do ano passado.

O grande volume de créditos transferidos para blockchains –desregulamentados e descentralizados por natureza – levantou dúvidas sobre a qualidade dos ativos sendo negociados e sobre o possível uso da tecnologia para mera especulação.

O texto propõe uma solução para o transporte dos créditos para plataformas cripto garantindo integridade ao sistema de ponta a ponta.

A Verra também quer algum tipo de garantia de que as transações não sejam anônimas.

As regras conhecidas como “know your client” (conheça seu cliente), importadas do sistema financeiro e em vigor em sua plataforma, são uma salvaguarda contra “lavagem de dinheiro, corrupção e financiamento de terroristas”, segundo a entidade.

Pelos próximos dois meses a Verra, uma entidade sem fins lucrativos, vai aceitar comentários sobre a proposta. Uma decisão deve ser anunciada até o final do ano.

Evitando a dupla compensação de emissões

Para evitar o risco de dupla contagem dos créditos, o meio encontrado pelas companhias pioneiras na sua tokenização envolvia comprar e “aposentar” ­os créditos na largada para só então transformá-los em ativos negociáveis em blockchain.

Para a Verra, um dos problemas da tokenização como vinha sendo feita estava justamente nessa “aposentadoria precoce”: para efeitos de contabilidade, uma vez aposentados, os créditos já teriam cumprido sua função ambiental de compensar emissões de gases de efeito estufa e não deveriam mais ser negociados.

Companhias como Moss e Toucan, entretanto, afirmam que o mecanismo improvisado era somente uma tentativa de boa fé de aumentar a liquidez do mercado voluntário e que não havia risco de que o mesmo crédito fosse usado mais de uma vez para neutralizar emissões.

A entidade quer que os créditos (chamados de VCUs, ou Verified Carbon Units) sejam transacionados on-chain “vivos”, sem ser aposentados. 

A proposta cria um novo status para os créditos:  enquanto estiverem trocando de mãos no blockchain, os VCUs estariam “imobilizados”.

A aposentadoria no sistema da Verra só ocorreria quando um comprador reivindicasse a compensação representada por aquele crédito. Neste momento, o token e o VCU a que ele corresponde sairiam de circulação.

Sem anonimato

Quanto ao anonimato – um dos pilares centrais da tecnologia do blockchain e das criptomoedas –, o documento faz afirmações mais vagas.

A entidade quer que as plataformas em que serão negociados os tokens verifiquem a identidade dos compradores que farão uso do benefício ambiental do crédito. Também é possível que a Verra exija informações sobre todas as transações.

Mas, ao menos nos blockchains utilizados hoje, não é possível identificar compradores e vendedores de ativos (a menos que eles assim desejem).

Esse requerimento pode, na prática, negar um dos principais benefícios apontados pelos defensores do uso de blockchains: a liquidez propiciada por um mercado secundário.

“Se as informações sobre os titulares de crédito forem necessárias até a aposentadoria final, a liquidez provavelmente cairá drasticamente e retornará aos dias pré-blockchain de 2020”, diz Luís Felipe Adaime, fundador e CEO da Moss.

Adaime afirma que essa regra pode criar um padrão duplo, já que negociações secundárias de créditos Verra realizadas no CBL, um mercado de futuros da Bolsa de Chicago, acontecem de forma anônima.

A Moss e outros pioneiros da tokenização argumentam que um dos benefícios da tokenização é justamente transformar o mercado de carbono em algo tão simples e acessível quanto o das criptomoedas.