Com uma tese de buscar empresas de impacto socioambiental com viés de tecnologia, a Positive Ventures captou R$ 55 milhões no começo de 2019 e atraiu nomes de peso, como o ex-CEO do Itaú Cândido Bracher e o recém-nomeado CEO da Natura, Fábio Barbosa.
Dois anos e meio depois, está triplicando a aposta e acaba de concluir a captação de R$ 75 milhões para um segundo fundo, que deve chegar a até R$ 150 milhões.
O clima mais adverso para o mercado de venture capital, com o aumento global da aversão ao risco, passou ao largo da captação, que foi concluída em três meses.
“A lente de impacto tem sido muito favorável tanto para a originação de negócios quanto para a captação”, diz Andrea Kestenbaum, CEO da Positive. “Além do retorno, a tomada de decisão desses investidores está muito permeada também pelo legado e isso não deixa de existir numa crise.”
Com um retorno de 25% ao ano em dólar no veículo de estreia, boa parte dos investidores – 70% – entrou também no novo fundo. Agora, no entanto, além das pessoas físicas endinheiradas e family offices, o escopo se abriu e institucionais também estão entre os investidores.
“No fundo 1, os institucionais entravam nos apresentando famílias. No fundo 2 eles se sentiram muito mais confortáveis para entrar diretamente, por conta dos resultados, tanto financeiros, quanto de impacto”, diz Kestenbaum.
Portfólio tech
Com doze investidas no portfólio, a Positive coleciona alguns casos de destaque.
A Eureciclo, primeira investida da gestora nos idos de 2017 – ainda na fase em que os sócios faziam club deals antes da captação do primeiro fundo – acaba de receber um aporte de R$ 100 milhões para escalar seus créditos de reciclagem.
A Positive segue como acionista e até agora o retorno com o investimento já supera as 30 vezes.
A Labi, que oferece exames laboratoriais a preços acessíveis, atraiu a Raia Drogasil no fim do ano e está acelerando seu plano de expansão ao abrir novos pontos junto a farmácias da rede.
A Positive busca empresas que resolvam desafios ambientais e climáticos, além de ter um olhar para saúde, educação e empregabilidade, mas sempre com uma lente ‘tech’.
Um diferencial em relação a outras casas está na abordagem que chama de ‘cross border’, com um olhar para empresas na América Latina e nos Estados Unidos – o que ajuda a conseguir lugar em negócios mais parrudos, mesmo com cheques menores.
A estratégia inclui a Slang, um app para ensino de idiomas fundado nos Estados Unidos, e a Pachama, uma cleantech argentina que usa inteligência artificial e imagens de satélites para apoiar a geração de créditos de carbono florestais.
“Em ambos os casos, o Brasil era um dos principais mercados para eles e conseguimos acesso a essas rodadas abrindo o mercado e ajudando as empresas por aqui”, afirma o CIO Murilo Menezes, que fica baseado na Califórnia.
Outras investidas da Positive incluem a Letrus, de educação, a Oya, de saúde feminina, a Neomed, de gestão de laudos médicos, e a Provi, fintech de crédito educacional para cursos profissionalizantes.
Recalibrando os cheques
No novo fundo, a ideia é repetir a fórmula, mas recalibrando o tamanho dos cheques – aproveitando o cenário de preços mais realista que veio com o fim da festa de liquidez que tinha inflado o mercado das startups nos últimos anos.
Normalmente, a Positive investe em rodadas seed ou série A, mas no fundo 2 vê possibilidade de entrar em estágios um pouco anteriores, com cheques a partir de US$ 600 mil, chegando a 20 startups.
Além disso, metade dos R$ 150 milhões que pretende captar deve ficar para os follow-ons, entrando em rodadas série B para acompanhar o crescimento das investidas.
No pipeline, estão negócios nos segmentos de tecnologias blockchain para o mercado de créditos de carbono e geração distribuída de energia renovável. “Há várias regulações no Brasil favorecendo geração distribuída de solar, eólica e hídrica. Isso permite investimentos em transição energética que não são muito intensivos em capital”, diz Menezes.
Impacto com resiliência
Há ainda uma preocupação de refinar as avaliações de impacto, trabalhando com parcerias externas para validar os modelos e hipóteses construídos dentro de casa.
Um exemplo dessas parcerias é o trabalho desenvolvido pelo J-PAL – laboratório de combate à pobreza fundado pelos laureados com o Nobel de Economia Abhijit Banerjee e Esther Duflo –, que validou os resultados da metodologia utilizada pela investida Letrus para ajudar no letramento em escolas públicas.
“A gente sempre fala que a lente de impacto nos traz muita nitidez”, diz a chief impact officer Bruna Constantino. “Esse é o tipo de resultado que nos dá segurança que estamos no caminho certo e também abre portas para a Letrus.”
O impacto, para a gestora, é uma forma de ganhar resiliência.
“Estamos muito convictos que ter uma tese de impacto nos permite ver uma demanda permanente em setores pouco atendidos. E que, exatamente por aqui, vão ser resilientes mesmo com a volatilidade do mercado”, resume Menezes.