Onda de calor ameaça nota de crédito da Índia, diz Moody's

Evento que tende a se tornar mais frequente é um exemplo claro de como as mudanças climáticas representam um risco sistêmico para as economias

Onda de calor ameaça nota de crédito da Índia, diz Moody's
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Uma onda de calor recorde que está castigando a Índia pode afetar a nota de crédito soberana do país, diz a agência Moody’s, em um exemplo claro de como as mudanças climáticas representam um risco sistêmico para as economias.

Segundo um relatório da agência de avaliação de risco de crédito, as altas temperaturas na Índia estão criando um efeito dominó que começa com o aumento da demanda de energia e a queda de produção de trigo, contribuindo para o crescimento da inflação, freando o crescimento e, por fim, elevando o risco de calote do país.

A crise energética tem se dado pelo uso intensivo de aparelhos de ar condicionado num momento em que o carvão usado pelas usinas é escasso (a matriz energética indiana é dominada por térmicas a carvão). Os blackouts têm sido constantes. Dos 28 estados da Índia, 16 tiveram o fornecimento de energia comprometido nos últimos meses, prejudicando a indústria.

A produção de trigo também teve uma queda de rendimento de 20%, o que levou o governo a limitar as exportações no começo do mês e, portanto, diminuir a oferta global da commodity já afetada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. A Índia é a segunda maior exportadora de trigo do mundo, o que significa que os riscos climáticos que afetam o país têm consequências globais.

A onda de calor indiana, que secou leitos de rios e tem feito pássaros caírem mortos do céu, é a maior em 122 anos. Mas, por causa dos efeitos das mudanças climáticas, pode deixar de ser um evento fora da curva. 

Segundo estudo da iniciativa World Weather Attribution (WWA), ondas de calor de tal intensidade devem ser um evento que ocorre uma vez por século na Índia e no Paquistão considerando o nível atual de aquecimento global (1,2°C em relação aos níveis pré-industriais). Mas o fenômeno pode passar a  ocorrer a cada cinco anos num cenário de 2°C de aquecimento global.

Para Moody’s, a exposição da Índia a riscos climáticos físicos “significa que seu crescimento econômico provavelmente se tornará mais volátil à medida que enfrenta incidências crescentes e mais extremas de choques relacionados ao clima”.

A agência tem hoje uma classificação Baa3 para a Índia – ou seja, o país está a um passo de perder o grau de investimento e a onda de calor pode ser o empurrão que faltava.

O evento climático e seus desdobramentos estão atingindo uma economia que já enfrenta reveses em sua recuperação pós-pandemia devido à aceleração da inflação e à política de elevação dos juros pelo banco central do país.