A pressão dos acionistas sobre a ExxonMobil, uma das maiores petroleiras do mundo, segue fazendo efeito. A empresa prometeu anunciar este ano um plano para zerar as emissões de CO2 de suas atividades até 2050.
Mas o plano vai deixar a desejar para quem espera medidas de grande alcance.
Alvo de uma campanha ativista heroica do pequeno fundo de hedge Engine No.1, a americana afirmou que as medidas cobrirão somente suas operações diretas e a energia utilizada, os chamados escopos 1 e 2, respectivamente.
A queima dos combustíveis pelos clientes e as emissões dos fornecedores estão fora, pelo menos por enquanto. Conhecidas como escopo 3, elas são a principal contribuição das petroleiras para o aquecimento global.
A empresa diz ter identificado 150 mudanças em seus processos de exploração e produção para chegar ao net zero. Elas incluem eletrificação (com o uso de fontes renováveis), fim da queima e liberação atmosférica de metano e uso de tecnologias de captura e armazenamento de CO2.
“Conseguimos enxergar o caminho”, afirmou o CEO da Exxon, Darren Woods, em entrevista ao New York Times. “Até o fim deste ano, 90% de nossos ativos terão uma estratégia para reduzir emissões e tornar realidade esse futuro net zero.”
Mesmo diante de um “risco existencial” por causa da transição para fontes limpas de energia, como argumenta o Engine No. 1, a Exxon escolheu um caminho mais conservador que o de alguns pares, em especial as europeias.
Assumir a responsabilidade pelo escopo 3 das emissões é um desafio grande para qualquer negócio, mas particularmente complicado no caso das petroleiras.
Algumas consideram compensar a queima de gasolina com projetos de reflorestamento e investimentos em tecnologias de captura de CO2 do ar.
Outra alternativa é reorientar o negócio: vender os ativos mais sujos e dar os primeiros passos na transformação de empresas de óleo e gás em companhias de energia limpa (ou menos suja).
Em dezembro, a Shell vendeu sua operação na Bacia do Permiano, no Texas. Juntas, a também britânica BP e a francesa Total Energies se desfizeram de US$ 5,5 bilhões de ativos fósseis nos últimos meses.
O canto da sereia
O problema é que sol, vento e hidrogênio verde não dão tanto dinheiro quanto os hidrocarbonetos formados no subsolo ao longo de milhões de anos.
Uma estimativa da consultoria IHS Markit, fundada pelo papa da energia Daniel Yergin, estima que investimentos em óleo e gás geraram retorno médio de 8,3% no capital investido desde 2010. No caso das renováveis, a média ficou em 5%.
Isso é especialmente verdade num momento como o atual. O preço do barril de petróleo subiu mais de 10% nas duas primeiras semanas do ano e bateu um recorde de sete anos na manhã desta terça-feira.
Cada vez mais analistas apostam em preços acima de US$ 100 este ano, talvez ainda no primeiro semestre.
Reunidas em Houston há pouco mais de um mês, as maiores petroleiras do mundo afirmaram que a pressa para chegar a um mundo pós-combustíveis fósseis pode ser perigosa.
“Não será fácil para alguns admitir publicamente que óleo e gás terão papel essencial durante a transição e além”, afirmou Amin Nasser, CEO da Saudi Aramco, a estatal saudita do petróleo.
“Mas aceitar essa realidade será mais fácil que lidar com insegurança energética, inflação descontrolada e convulsões sociais.” Na opinião, de Nasser, o mundo faz projeções de cenários pouco realistas sobre o futuro da energia.
A prudência – ou alarmismo, dependendo do ponto de vista – foi repetida por seus colegas.
Mas é difícil afastar a sensação de que, quando o preço do barril está nas alturas, os alertas de cientistas e ativistas não passam de um ruído aos ouvidos das petroleiras.
E dos investidores. No ano passado, entre os onze setores que compõem o índice S&P 500, da bolsa de Nova York, o que teve o melhor desempenho foi justamente o de energia, puxado pelas gigantes do petróleo.
O entusiasmo segue inabalado este ano: as ações da Chevron subiram quase 10%, e as da ExxonMobil, 17% desde a virada do ano.
Indo fundo no pré-sal
Essa é a lógica que parece orientar o pensamento da Petrobras. No plano estratégico para 2022-2026, divulgado em dezembro, a estatal passou uma mensagem simples e direta: vamos aproveitar nossa vantagem competitiva do pré-sal e focar na remuneração do acionista.
A alta recente alta dos preços pode dar razão a essa escolha no curto prazo, mas não há garantias de que os preços se mantenham nesse patamar por muito tempo.
“Não acho que o preço volte aos níveis da pandemia, mas também não acredito que os níveis atuais sejam sustentáveis”, diz Rodrigo Leão, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
A volatilidade recente tem algumas explicações.
Em primeiro lugar, vêm a retomada da economia mundial e a percepção de que a variante ômicron não causará impacto econômico duradouro.
Tensões entre a Rússia e a Ucrânia e o temor de que
a guerra civil do Iêmen transborde para países produtores do Golfo Pérsico podem indicar problemas de abastecimento em 2022, dizem analistas.
“O mercado enxerga um possível aperto mais adiante e está tentando se antecipar”, afirmou ao Wall Street Journal Paul Horsnell, chefe de estratégia de commodities do banco Standard Chartered.