A COP26 está entrando nas suas 24 horas finais — pelo menos oficialmente, pois se não houver acordo até o fim do dia de amanhã a expectativa é que os relógios sejam parados em Glasgow para dar aos negociadores uma chance final de consenso.
Preparamos uma edição especial do Radar Reset para que você esteja por dentro dos pontos mais importantes da reta final da conferência do clima. De uma linguagem ousada no texto final que sugere o fim dos subsídios para combustíveis fósseis ao longo parto das regras dos mercados de carbono, estes são os temas que vão dominar as discussões em Glasgow.
O documento final tem de ser aprovado por todos os participantes da conferência. Portanto, mesmo que haja um consenso específico sobre o regramento do Artigo 6, ele só terá validade prática se houver unanimidade em relação a todas as outras questões em jogo.
Ai, ai, ai ai…
Diferentemente do que ocorreu em Paris, a reunião de Glasgow não vai resultar em um tratado, mas sim em um documento final cuja ideia é avançar em relação aos objetivos estabelecidos seis anos atrás. O primeiro rascunho, divulgado na quarta-feira, contém menções a fim do subsídio a combustíveis fósseis, afirma que o impacto da mudança climática já é sentido no mundo inteiro e reforça a importância do limite de 1,5°C no aquecimento global. Um trecho controverso sugere que as metas de descarbonização dos países (conhecidas como NDCs) sejam revistas anualmente, e não mais a cada cinco anos, como determina o Acordo de Paris. Também há menções à necessidade de financiamento para a adaptação dos países em desenvolvimento.
Vários desses pontos encontram resistência e terão de ser resolvidos pelos negociadores. Os sauditas se opõem a menções específicas ao petróleo. Nações mais vulneráveis querem uma linguagem mais forte em relação à transferência de recursos — este é considerado um dos grandes obstáculos a vencer nos próximos dias e horas. E o texto ainda não diz nada sobre um tema que continua travado há anos: o Artigo 6.
… está chegando a hora
As negociações sobre as regras para a criação de mercados globais de carbono, o Artigo 6, estão avançando, segundo observadores e participantes das negociações. Uma fonte bem posicionada disse ao Reset estar bastante otimista em relação às chances de um acordo. Os principais entraves seguem sendo a transição dos créditos gerados no âmbito do Protocolo de Kyoto, um imposto sobre as transações de carbono para financiar a transição dos países mais pobres. Nesta quinta-feira, uma proposta apresentada pelo Japão para resolver o assunto espinhoso da contabilidade dupla dos créditos foi bem recebida pela delegação brasileira – cuja resistência em relação ao assunto é apontada como uma das razões do fracasso da COP25, em 2019.
Dança dos famosos
Uma das principais atrações da conferência é o balé diplomático entre China e Estados Unidos. Na noite de quarta-feira houve um anúncio surpresa. Os países fizeram uma declaração conjunta prometendo “cooperação”. O texto é genérico, mas, como em todo comunicado diplomático, o importante estava nas entrelinhas: duas superpotências que se desentendem em tudo são capazes de se unir pelo clima. Ambientalistas afirmaram que a mensagem é importante e pode ajudar a “destravar fluxos financeiros que acelerem a transição para a economia pós-carbono”, segundo o The Guardian. Segundo o New York Times, foram meses de conversas entre os dois enviados do clima, John Kerry e Xie Zenhua, que se conhecem há mais de 20 anos.
Um pé no acelerador...
Mais de 250 governos nacionais e regionais, empresas e montadoras assinaram um compromisso para fazer a transição elétrica de suas frotas de veículos leves até 2040. A cidade de São Paulo foi a única brasileira a aderir. Mas os dois maiores mercados do mundo, China e Estados Unidos, ficaram de fora, bem como quatro das cinco maiores montadoras (a exceção foi a GM). “Cada empresa faz suas escolhas, mas todos os meus colegas estão se mexendo muito rápido”, disse o CEO da Mercedes-Benz ao Financial Times.
… e outro no freio
Outra iniciativa de destaque dos dias finais da COP26 foi o lançamento de uma aliança de seis países para dar início ao fim da produção de petróleo e gás, liderada por Costa Rica e Dinamarca. A ideia é estabelecer datas precisas para o fim da exploração. Mas as expectativas têm de ser temperadas: o grupo não inclui os pesos-pesados dos combustíveis fósseis. O lobby das petroleiras se fez presente em grande número em Glasgow. Segundo a ONG Global Witness, foi a maior “delegação” da conferência, superando a brasileira.