Na mesma semana em que a Tesla atingiu a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado, a Volvo teve que reduzir o tamanho de sua oferta de ações para emplacar seu IPO na Bolsa de Estocolmo — em mais um sinal de que o mercado está pouco disposto a pagar na frente por teses de transição elétrica das montadoras tradicionais.
A montadora sueca, controlada pela chinesa Geely desde 2010 e protagonista de uma das maiores histórias recentes de turnaround da indústria automotiva, tem um dos planos mais ambiciosos de eletrificação: quer vender apenas carros elétricos até 2030.
Mas atualmente apenas 3% de suas vendas vêm desse tipo de veículo.
Nesta semana, a companhia anunciou que fixou o preço por ação na oferta no piso da faixa indicativa, o que lhe atribui um valor de mercado de US$ 18 bilhões. É bem menos que os US$ 23 bilhões que esperava alcançar inicialmente e muito menos que o valuation de US$ 30 bilhões que chegou a se aventar quando as conversas sobre listagem começaram a surgir há poucos meses.
Em meio ao ceticismo dos investidores, a Geely desistiu de exercer uma opção de venda de ações que poderia aumentar a oferta em 20%. A oferta foi atrasada em um dia e a estreia na bolsa está prevista para sexta-feira.
Fatores mais conjunturais, como a crise energética na Europa e os problemas na cadeia de suprimentos da indústria automotiva, não ajudaram no timing da oferta.
Outro ponto crítico dizia respeito à estrutura de governança. Pelo modelo originalmente proposto, a Geely teria ações turbinadas que lhe dariam 97% do poder de voto na companhia, mesmo com apenas 84% do capital. Mas, diante da pressão de investidores, voltou atrás e desistiu dos papéis com super voto.
Em entrevista ao Financial Times, o CEO da Volvo, Hakan Samuelsson, que vai se aposentar no fim do ano, disse que houve discussões intensas com os investidores sobre “China, direitos de voto e guerra comercial”.
Mas reconheceu que os investidores tiveram uma postura de “só acredito vendo” ao avaliar a transição da montadora para veículos elétricos.
Na prática, a Volvo vai valer menos que a Polestar, uma startup de veículos elétricos na qual tem uma participação de 50% e que pretende se listar por US$ 20 bilhões via um SPAC (fundo de cheque em branco). A Polestar vendeu 10 mil veículos no ano passado, comparados com 662 mil da Volvo.
A Geely comprou a Volvo da Ford por US$ 1,8 bilhão em 2010, quando a montadora sueca estava sofrendo sob o controle da Ford. Sob nova direção, mas mantendo boa parte da sua independência, a montadora voltou a crescer, tendo a China como seu maior mercado, seguido por Estados Unidos, Suécia e Alemanha.
Com o novo valuation, a fatia da Geely de pouco mais de 80% da Geely pós IPO valerá cerca de US$ 15 bilhões.