OPINIÃO

ESG vem de berço: E o que a literatura tem a ver com isso?

A jornalista e escritora Paula de Santis estreia coluna que fará conexão entre a literatura infanto-juvenil e sustentabilidade, valores, condutas e negócios de impacto

ESG vem de berço: E o que a literatura tem a ver com isso?


Estreia da coluna, me permito começar com uma pergunta. Como você conversa com seus filhos, netos, sobrinhos, alunos ou qualquer outra criança ou jovem ao seu redor sobre a vida no planeta e a vida do planeta?

Pergunta capciosa porque pressupõe que, sim, é óbvio que você conversa com eles sobre este tema. Certo?

Esta coluna vem dar um empurrãozinho nesse papo.

Meu desafio aqui será mostrar a inevitável, necessária e urgente conexão entre a literatura infanto-juvenil e a sustentabilidade, valores, condutas e negócios de impacto. Provavelmente, com mais ênfase nos impactos do que nos negócios.

Essa literatura temática – que não pretende ser um manual de boas maneiras, muito menos um exercício escolar – é um avião em plena decolagem. Tem potência, emoção, vibração, expectativa, paisagens, perspectivas e o desejo por um destino.

A ideia é nutrir crianças e jovens com novas visões de mundo, desafios e prioridades que contribuam para suas escolhas.

Mais do isso, espero que os livros sejam muito inspiradores, no presente e no futuro, levando ao engajamento em ações verdadeiramente transformadoras e inovadoras, podendo fazer desse destino um lugar de inclusão, de bem-estar e de preservação da vida.

Literatura para pensar e para amar

Na primeira infância, tecnicamente dos 0 aos 6 anos, as crianças aprendem e apreendem uma infinidade de recursos para que possam crescer com saúde física, mental e afetiva. Aprendem a andar, a falar, desenvolvem motricidade para desempenhar uma série de atividades de forma independente, etc. Sobretudo, aprendem a pensar e a amar. 

No entanto, não aprendem, necessariamente, a colocar o amor a serviço do pensar e o pensar à disposição do amor.

A interação entre essas duas valiosas habilidades acontece por meio do exemplo e da interação familiar, na escola e na relação com outras crianças, sem esgotar-se aí.  E é por meio desse baile, com tantos giros e tantos passos, dançando às vezes “cheek to cheek” e outras dando shows “solo” que o amar e o pensar definem a maneira de cada um estar no mundo, entender seu papel em cada etapa da vida e ir criando um jeito próprio de fazer o que precisa ser feito. 

Um grande mediador dessa dança, que alavanca o pensar, encoraja o amar e impulsiona os lucros de um lado e de outro é a leitura. Entende-se por leitura ouvir, cantar, folhear e olhar histórias, inventá-las e até usar o objeto livro como brinquedo. Desde a mais tenra idade. Inclusive ler!

Para começar: “…e o que veio antes?”

Para começar a conversa sobre nosso papel no mundo, antes mesmo de entrar em questões mais diretamente ligadas à preservação da vida no planeta, embarque junto em “…e o que veio antes?” (Casa BabaYaga, R$ 38) de Carolina Moreyra e Marcia  Misawa (ilustradora), lançado em 2017.

A obra é uma viagem no tempo que começa aqui e agora e vai conduzindo o leitor às origens do universo. A narrativa se move no sentido inverso à linha do tempo a que estamos habituados. Para acompanhar, o virar de páginas se dá de trás para a frente, levando a uma busca concreta sobre o que aconteceu antes.   

Começa com uma cadeira, onde alguém se sentou hoje, e regride até o Big Bang. Há neste intervalo uma aula de história, geografia e ciências embutida em pouquíssimas palavras e imagens simples, apresentadas de maneira criativa, original e poética.

O mundo como é hoje tem uma história. Assim como a sua família, você e a criança com quem você compartilha o livro. Voltar ao passado é uma enorme descoberta e ajuda a entender como chegamos a este presente. Cabe a você e à criança escolher aprofundar, ou não.

Se a opção for pelo mergulho, dá para tentar imaginar como seria o nosso mundo ou o mundo desta criança se algumas das etapas anteriores não tivessem acontecido. Ou, então, que conexões se pode fazer com o futuro.

Esse livro, pouco maior que uma mão, ajuda a criança e o adulto a se enxergarem no mundo, refletirem sobre o tamanho dele e pensarem sobre sentido ou propósito, como está na “moda”. 

Permita-se responder “não sei”. Façam, juntos, uma coleção de “não seis”.

Desejo a todos uma viagem incrível.

* Em 20 anos de carreira, Paula de Santis escreveu sobre economia e finanças na Gazeta Mercantil, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e revista Época. Liderou a comunicação corporativa da Whirlpool na América Latina e assessorou a presidência do Instituto Akatu. É jornalista com MBA em Gestão de Negócios Socioambientais e pós-graduação em Economia Solidária pelo ICP em Paris. Escritora, hoje cursa a pós-graduação O Livro para a Infância, n’A Casa Tombada, é mãe do Rodrigo e da Alice e mora na França.