Pioneira nos veículos híbridos, a Toyota sempre foi uma das montadoras mais céticas quanto à hegemonia dos veículos totalmente elétricos (os EVs) e vem defendendo há anos uma abordagem mais holística, com o uso de diferentes tecnologias para reduzir o uso de combustíveis fósseis.
Ontem, no entanto, a montadora decidiu fazer sua aposta mais ousada nos EVs, anunciando um investimento de cerca de US$ 13,7 bilhões no desenvolvimento de baterias para carros elétricos ao longo da próxima década.
“Os veículos com emissão zero são importantes em regiões onde a energia renovável é amplamente adotada”, disse Masahiko Maeda, diretor de tecnologia da Toyota em apresentação online. “A Toyota está preparando uma linha completa de veículos com redução de emissão de CO2.”
A empresa já tinha um plano de ter ao menos uma versão eletrificada, seja ela híbrida ou elétrica, para cada veículo até 2030. Ao menos 15 novos carros elétricos da montadora devem chegar ao mercado até 2025.
Quase dois terços do valor investido deve ser empregado em 70 linhas de produção de carros elétricos até 2030. A previsão é ter um suprimento de 200 gWh de baterias.
O investimento é modesto se comparado aos US$ 29 bilhões que a Volkswagen anunciou para construir seis fábricas na Europa na produção de suas próprias baterias. Mas passam um sinal relevante sobre a percepção da montadora japonesa sobre o futuro da mobilidade.
Diversas vezes, a Toyota mencionou que o preço dos carros elétricos e os desafios de construir uma infraestrutura de mobilidade poderiam atrasar o avanço dos carros abastecidos unicamente com energia elétrica . Agora, Maeda reconheceu que as baterias “estão se espalhando mais rápido que o esperado”.
O executivo também reafirmou os planos para o desenvolvimento das chamadas “baterias de estado sólido”, uma evolução do modelo atual que usa eletrólitos em estado líquido e que possuem maior autonomia e menor tempo de carregamento, até 2025.
Por ora, a empresa mantém uma parceria de fornecimento de baterias com a Panasonic, mesma fornecedora da Tesla.
Se tudo correr como planejado, a Toyota espera obter uma redução de até 50% no custo de produção dos veículos com o uso de suas futuras baterias.
Aposta híbrida
O investimento parrudo da Toyota nas baterias não deve afastar a montadora japonesa dos veículos híbridos. “Podemos fornecer híbridos a um preço acessível”, informou a companhia.
Em países como o Brasil, em que as vendas de carros elétricos ainda não aceleraram – seja pelo preço ou pela falta de infraestrutura de abastecimento – a montadora segue investindo nos híbridos.
Por aqui, a aposta é redobrada nos modelos flex, que podem ser abastecidos com etanol e, por isso, têm um perfil de emissões de gases de efeito estufa bastante reduzido.
As vendas do Corolla Híbrido Flex, por exemplo, já representam 30% do total da linha no país, contra previsão inicial de 20%, conforme informou Rafael Chang, CEO da operação brasileira da montadora, em entrevista ao Reset.
Segundo cálculos da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), o Corolla Híbrido Flex emite quase 80% menos que um carro abastecido exclusivamente com gasolina e cerca de 20% menos que a versão que usa apenas etanol. (Os números consideram o ciclo completo do etanol, do poço à roda, que inclui o plantio, processamento, transporte, distribuição e uso nos carros.)
(Com edição de Natalia Viri)