KPTL lança seu primeiro fundo latino e mira bioeconomia amazônica

Com captação aberta, fundo de venture capital começa com US$ 11 milhões ancorados pelo BID Lab e vai investir em sete países da região

Novo fundo da KPTL para investimento em biodiversidade será gerido por Renato Ramalho, da KPTL, e Otávio Ottoni, da Kaeté Investimentos
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Um dos principais nomes de venture capital no Brasil, a KPTL (lê-se “capital”, em inglês) iniciou a captação para um novo fundo que vai investir em startups baseadas na bioeconomia na Amazônia. O veículo é a primeira iniciativa de VC internacional da gestora. Além do Brasil, investirá em Equador, Bolívia, Peru, Colômbia, Guiana e Suriname. 

O fundo começa com US$ 11 milhões (cerca de R$ 58 milhões). O aporte é ancorado pelo BID Lab, laboratório de inovação e empreendimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e conta também com recursos do Green Climate Fund, um veículo criado no âmbito da Convenção do Clima, e do Natural Capital Lab, uma iniciativa do BID para promoção de biodiversidade.

A KPTL e Denis Benchimol Minev, da família controladora da rede varejista Bemol, também investiram no fundo.

O Amazônia Regenerate Accelerator and Investment Fund, como foi batizado, permite uma tese ampla de investimentos, diz Renato Ramalho, CEO da KPTL (à esquerda na foto). “Cabe uma série de iniciativas, desde soluções de bancarização para comunidades que atuam no setor, por exemplo, até de logística e comercialização.”

A meta é que a captação chegue a US$ 30 milhões nos próximos 18 meses. 

Diferentemente de seus fundos climáticos estruturados anteriormente, agora, a gestora busca os bolsos internacionais. Bancos multilaterais e agências de desenvolvimento do exterior, recursos filantrópicos de fundações e famílias e dinheiro corporativo da Europa, principalmente, e dos Estados Unidos são as prioridades no roadshow, que já está em andamento. 

“Quando se fala em proteção da Amazônia, a pauta da bioeconomia é a que me parece estar sendo priorizada. Ela empacota muito bem questões ambientais e sociais, então os bancos de fomento olham muito para isso”, diz Ramalho. 

Com mais de R$ 1 bilhão sob gestão, a KPTL administra há cerca de dois anos o Fundo de Floresta e Clima e, desde 2013, o Fundo de Inovação em Meio Ambiente (FIMA).

Ambos têm características “muito brasileiras”, segundo o CEO da KPTL, e o foco ficou nos investidores locais. “Agora, quando falamos de bioeconomia na América Latina, a tese sobe um degrau e há um leque de opções.” 

O valor já captado deve possibilitar 15 investimentos, com 3 previstos para este ano.

Empreendedorismo na Amazônia

Com quase 120 empresas investidas nos últimos 15 anos, a KPTL buscará empresas early stage, que já estejam em fase operacional, para o novo fundo. Os aportes vão começar em US$ 150 mil e podem chegar a US$ 1 milhão. 

Além de Ramalho, o fundo também terá Otávio Ottoni, venture partner da KPTL e fundador da Kaeté Investimentos (à direita na foto), na gestão. 

A Kaeté é uma gestora de private equity focada em soluções que promovem uso sustentável de recursos naturais e tenham famílias de baixa renda como público-alvo – desde sua fundação, em 2011, fechou 17 transações que, entre co-investimentos e dívidas, totalizam mais de R$ 1,1 bilhão. 

No modelo da parceria, a KPTL irá assumir a divisão internacional da Kaeté. 

“Entendemos que juntos podemos ter um alcance maior. Nós trazemos a experiência de empreendedorismo inicial e o olhar de inovação, enquanto o Otávio e a Kaeté trazem um conhecimento bastante forte da Amazônia, em dinâmica de negócio e de empreendedorismo”, diz Ramalho. 

O fundo deve investir nos sete países em que se comprometeu a estar presente, com o limite de 60% de alocação de recursos em um único país. Diferentes estágios de maturidade e de uso de tecnologia são esperados, afirma o gestor.

Experiência em clima

Lançado há dois anos pela KPTL junto com o Fundo Vale, o Fundo Floresta e Clima deve terminar o ano com R$ 50 milhões. 

Com foco no Brasil, a tese de investimento abrange todo o guarda-chuva de questões ligadas a clima, como transição energética e agroflorestas. 

Até aqui o veículo fez somente um aporte em startup de bioeconomia, a Ages Bioactive. A empresa desenvolve nutracêuticos (compostos bioativos) à base de moléculas descobertas na Amazônia. Os produtos são manipulados e vendidos sob orientação médica. 

“Poderíamos dizer que essa é uma empresa de saúde, mas por trás dela há uma floresta como a fornecedora de moléculas, um trabalho para mantê-la de pé, a relação com as comunidades que coletam esses ativos, questões de distribuição de renda e o impacto para qualidade de vida”, afirma Ramalho, “Para nós, é um caso clássico que envolve proteção ambiental, impacto social e qualidade de vida”.