
A COP 30 será um teste de liderança. Se bem-sucedida, pode dar ao Brasil uma posição de protagonismo inédita em uma agenda que interessa ao mundo e que pode ditar o rumo da economia nas próximas décadas. Além dos aspectos ambientais e morais, a transição climática é, cada vez mais, uma agenda de negócios que, segundo estudos da McKinsey, pode mobilizar até US$ 10 trilhões até 2050. É nesse ponto que o setor empresarial pode assumir o protagonismo e equacionar risco, oportunidade e geração de valor.
Para o Brasil, o sucesso da COP – e da transição climática – pode agregar até US$ 100 bilhões ao PIB e gerar 6,4 milhões de empregos até 2030, segundo a consultoria. É a oportunidade da década e pode ser o novo vetor de crescimento do país.
Como materializar essa transformação? A resposta está na habilidade de transformar vantagens competitivas em soluções escaláveis. A urgência é evidente. No Brasil, as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca prolongada no Centro-Oeste — com quase 50 dias a mais que o usual — já inscreveram a emergência climática nas contas nacionais.
Os rios da Amazônia registram vazões historicamente baixas, dificultando a navegação e o escoamento de insumos. Esses impactos resultam em perdas econômicas diretas, fechamento de negócios e, no limite, custam vidas humanas. A pauta climática é, em seu cerne, uma questão de gestão de riscos.
Articulações para avançar
Estamos inseridos no centro dessa mudança estrutural. O Itaú, por exemplo, já entendeu que falar em liderança de mercado é falar em transição climática. O papel empresarial é indispensável, e organizações como o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) são essenciais para dar tração a esta agenda.
A articulação é chave e a iniciativa inédita de definir enviados especiais da COP para diferentes temas, setores e regiões estabelece novos canais de diálogo com a sociedade e as empresas. O poder público define as regras e estará presente nas negociações, mas a implementação das soluções cabe às empresas, que possuem a expertise para escalar tecnologias, mobilizar capital e transformar compromissos em resultados mensuráveis.
E, falando em resultados, o Brasil reúne condições excepcionais. Poucos países no mundo combinam uma matriz elétrica majoritariamente limpa, potencial solar e eólico em larga escala e a possibilidade de triplicar a produção agrícola apenas restaurando áreas degradadas, sem derrubar uma única árvore adicional.
Nossa indústria já possui vantagem competitiva significativa. A emissão de gases de efeito estufa do processo produtivo brasileiro é menor do que a de produtos europeus, chineses ou americanos, graças à nossa matriz energética limpa e a técnicas produtivas diferenciadas. Isso permite criar um verdadeiro “Selo Brasil” de sustentabilidade, exportando junto com nossos produtos não apenas valor econômico, mas também água, biodiversidade e carbono sequestrado.
Da perspectiva do financiamento, essa visão se materializa em dados concretos. O Itaú se comprometeu a mobilizar um trilhão de reais até 2030 em finanças sustentáveis. A instituição também participou dos primeiros leilões do Eco Invest, iniciativa inovadora do Brasil que demonstra como o mercado pode orientar capital para onde ele é mais necessário.
O programa Reverte já viabilizou a restauração do equivalente a 330 mil campos de futebol em áreas degradadas da pecuária, convertendo-as em áreas produtivas, caminhando para a meta de um milhão de hectares restaurados.
Esses indicadores traduzem compromissos em implementação efetiva. Da perspectiva da articulação setorial, o contexto regulatório também avança, e o CEBDS, junto às suas cerca de 120 grandes empresas associadas, tem sido aliado histórico dessas transformações.
É hora de implementar
O mercado de carbono brasileiro está sendo estruturado. A taxonomia sustentável brasileira está sendo lançada para classificar atividades industriais conforme seu grau de sustentabilidade, e projetos como o TFFF (Tropical Forest Forever Facility ou Fundo Florestas Tropicais para Sempre) podem remunerar diretamente a conservação de florestas tropicais.
As NDCs (Nationally Determined Contributions ou Contribuições Nacionalmente Determinadas) brasileiras estabelecem metas claras que precisam ser endereçadas por meio de tecnologias financiadas e desenvolvidas pelo setor empresarial.
As empresas que se posicionarem na frente dessa transformação serão as líderes do próximo século, assim como as companhias de tecnologia definiram a economia atual. A sustentabilidade precisa encontrar os negócios — e os negócios precisam encontrar a sustentabilidade.
O Brasil pode encerrar a COP30 não apenas como anfitrião, mas como líder global dessa mudança. Para isso, a contribuição empresarial é indispensável — em escala, em velocidade e em qualidade. É hora de transformar compromissos em implementação, ambição em competitividade e impacto climático em estratégia de negócios.
* Flavio Souza é presidente do Itaú BBA e Marina Grossi, presidente do CEBDS