
O seguro é peça-chave na construção da nova economia brasileira – mais verde, moderna e resiliente. Esse foi o tema central do terceiro dia da Casa do Seguro, nesta quarta-feira (12). Pela manhã, os painéis foram comandados pelo empoderador Allianz. À tarde, o Fórum de Finanças Sustentáveis na COP30 contou com falas de abertura de Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, Carlos José da Costa André, presidente da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), e Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho diretor da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Liderança brasileira: Segundo a embaixadora Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, o Brasil busca coordenar uma atuação entre as agendas do G20, do Brics e da COP para posicionar o país como um articulador entre finanças climáticas e política econômica.
Taxonomia sustentável: O Brasil lançou a primeira taxonomia sustentável nacional, considerada pioneira na incorporação de dimensões raciais e de gênero. A iniciativa é voluntária, mas tida como essencial para mobilizar capital, mitigar riscos de greenwashing e harmonizar regras com padrões internacionais.
Mercado de carbono: O Ministério da Fazenda pretende estruturar o mercado regulado de carbono em até três anos. O instrumento é visto como acelerador de investimentos, capaz de gerar sinalização clara para o setor privado, segundo Cristina Reis, nomeada no início do mês para a liderança da recém-criada Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono (Semc) do Ministério da Fazenda.
Alocação de risco: Os painelistas convergem na avaliação de que o problema não é falta de recursos, mas a ineficiência na alocação de riscos. A finança sustentável é apontada como o futuro das finanças, com a ideia de transformar riscos climáticos em oportunidades de investimento. Para chegar lá, o seguro é essencial.
Riscos e financiamentos
Mobilização de capital: A Febraban, que destinou R$ 450 milhões à economia verde, defende o uso dos acordos do Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, que reúne os bancos centrais do mundo todo, para calibrar o risco de ativos sustentáveis, liberando capital para novos financiamentos. Já a Anbima atua há mais de uma década em sustentabilidade, com foco em dados ESG, boas práticas e educação financeira.
Regulação: Os debates durante o Fórum de Finanças Sustentáveis na COP30, à tarde, destacam que a questão regulatória é decisiva para atrair investidores. O recado é unânime: “O risco deve ser motivo para investir, não para recuar.”
Desafios regulatórios: Para um maior direcionamento de recursos para temas ESG, é essencial um ambiente macroeconômico favorável. Enquanto não houver maior equilíbrio fiscal que permita ao Banco Central manter taxas de juros declinantes, haverá uma forte competição dos investimentos tradicionais de renda fixa, segundo Isabela Maia, chefe da gerência de sustentabilidade do Banco Central do Brasil.
Palavra de empoderador
O setor de seguros precisa ser visto não apenas como quem repara danos, mas também como quem previne e ajuda as cidades a se adaptar e se reconstruir. As cidades concentram pessoas, riqueza e também os impactos das mudanças climáticas. Por isso, são o ponto central quando falamos em resiliência
Eduard Folch Rue, CEO da Allianz Brasil
O desafio urbano
Cidades resilientes: Quando o assunto é clima, as cidades são peças fundamentais. Primeiro, porque contribuem para as mudanças do clima (impermeabilidade do solo, emissões de gases de efeito estufa, falta de áreas verdes). Por outro lado, concentram pessoas, riqueza e, consequentemente, o impacto dos riscos climáticos. O empoderador Allianz discutiu sobre o tema na parte da manhã.
Baixa cobertura: No Rio Grande do Sul, por exemplo, dos R$ 100 bilhões em perdas estimadas para a economia brasileira com as chuvas de 2024, apenas R$ 6 bilhões foram indenizados, o que mostra uma lacuna de 94% na cobertura securitária. E mais preocupante: 90% das mortes em eventos climáticos ocorrem em países em desenvolvimento.
GloRia: Nas sessões da manhã, o empoderador Allianz apresentou a plataforma Global Risk Assessment Tool, para que os usuários nas cidades acessem e entendam os riscos de catástrofes naturais (inundações, ventos fortes) e obtenham recomendações para melhor resiliência.
Singapura: Singapura foi citado como um país com cidades resilientes. O país reduziu as áreas propensas a inundações de 3 mil hectares nos anos 1970 para 30 hectares hoje. Neste período, a população duplicou. O caminho contou com investimentos em soluções de engenharia e baseadas na natureza. Lena Fuldauer, head de resiliência e desenvolvimento de negócios da Allianz Risk Consulting, abordou o caso como um exemplo que já “masterizou essa complexidade” para se adaptar à nova realidade climática.
Tendências do setor
Mudança de papel: O seguro deixa de ser apenas carregador de riscos e passa a ser parceiro de resiliência, com novos produtos e coberturas. Cresce o uso de seguros paramétricos, que pagam automaticamente com base em indicadores climáticos. Apólices também começam a incluir cláusulas de reconstrução sustentável, estimulando práticas mais resilientes.
Reconstruir melhor: As seguradoras também podem incentivar a resiliência estabelecendo pré-requisitos para a cobertura e utilizando estratégias Build Back Better (Reconstruir Melhor), após catástrofes naturais. O conceito prevê a reconstrução após desastres visando reduzir a vulnerabilidade a futuros episódios e construir resiliência a longo prazo.
Bioeconomia e setor florestal
A restauração ecológica e a bioeconomia aparecem como pilares da nova economia verde. O Brasil tem cerca de 1,3 milhão de hectares degradados dentro de unidades de conservação que podem ser restaurados – um dos caminhos mais eficientes para capturar carbono e gerar renda local. Atividades como o cultivo de cacau, café e açaí em sistemas agroflorestais ajudam a conciliar desenvolvimento e conservação.
Cota de Reserva Ambiental (CRA): O governo também aposta em instrumentos de mercado para valorizar quem preserva. A recém-lançada Cota de Reserva Ambiental (CRA) permite que proprietários com floresta excedente vendam cotas a quem precisa compensar sua reserva legal. O instrumento é considerado um passo para integrar conservação e geração de renda nas propriedades rurais.
Seguro como condição de financiamento: O setor de seguros foi apontado como peça essencial no financiamento verde. Além de ser requisito para acesso a crédito, o seguro pode condicionar cobertura ao cumprimento de critérios ambientais e sociais, como a ausência de desmatamento ilegal ou trabalho escravo. O poder de precificação do risco se torna, assim, uma ferramenta de incentivo a práticas sustentáveis.
Olhar para o futuro: A expectativa é que o mercado florestal brasileiro saia do estágio pré-competitivo e se consolide com dezenas de projetos de restauração em andamento. Segundo o BNDES, a meta é plantar 180 milhões de árvores e estruturar um mercado capaz de gerar emprego, renda e benefícios sociais em comunidades locais.
Imagens do dia






Acompanhe a transmissão ao vivo dos painéis no canal da CNseg
O que já aconteceu na Casa do Seguro
- Dia 2: Finanças climáticas, tecnologia verde e longevidade
- Dia 1: Seguro como oportunidade, e não apenas risco