
No segundo dia da Casa do Seguro, nesta terça-feira (11), as discussões giraram em torno de financiamento climático. Entre os participantes, houve consenso: para que o dinheiro chegue efetivamente na ponta, o seguro é peça fundamental. O debate destacou a importância de levar o tema para o campo prático, com foco em adaptação e resiliência. Outros assuntos abordados foram longevidade e tecnologia verde.
Ciência como ponto de partida: A ciência tem papel de traduzir a complexidade ecológica em métricas claras e aplicáveis. Para Fernanda Gomes, gerente de gestão do conhecimento e comunicação do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), é essencial integrar os diferentes atores: a ciência define os indicadores, o setor privado testa as soluções em projetos-piloto e o governo incorpora os resultados em políticas climáticas, garantindo que as decisões sejam baseadas em evidências concretas.
Seguros paramétricos: No período da manhã, o empoderador AXA apresentou um produto pioneiro para resiliência costeira e proteção de recifes de corais. Chamado de seguro paramétrico, ele realiza pagamentos automáticos após a ocorrência de eventos extremos, agilizando o reparo de recifes e a recuperação de ecossistemas. O seguro foi desenvolvido no México e está em expansão para outras regiões.
Mitigação: Segundo Michael William Beck, diretor do Centro de Resiliência Climática Costeira da AXA Chair in Coastal, as soluções baseadas na natureza podem reduzir significativamente os riscos climáticos e econômicos. Um estudo recente mostrou, por exemplo, que manguezais na Flórida evitaram US$ 1,4 bilhão em danos durante um furacão, evidenciando o potencial da natureza para proteger pessoas e propriedades.
A floresta como ativo
Florestas em pé: Entre os painelistas da manhã, foi consenso que a floresta em pé é um ativo valioso. Além de gerar benefícios ecossistêmicos como produção de água e proteção da biodiversidade, também aumenta a produtividade agrícola e reduz desastres climáticos.
TFFF como oportunidade: Nos painéis da manhã, o Fundo Florestas para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) foi apontado como uma nova frente de oportunidades para o setor de seguros. Segundo Rogério Paiva Cavalcante, presidente do conselho da Um Grau e Meio, startup que usa inteligência artificial na prevenção de incêndios florestais, o fundo pode abrir espaço para o desenvolvimento de novos produtos e parcerias voltados à proteção e recuperação de áreas florestais.
Novas tecnologias: Indo além de IA e sensores – já presentes no setor –, as tecnologias também incluem saberes tradicionais e soluções sociais que favorecem a coordenação e os investimentos coletivos, afirma Daniel Contrucci, cofundador da Climate Ventures, que mapeou cerca de 1,5 mil soluções de descarbonização no país.
Entraves para descarbonizar: Apesar do potencial de escala, empresas de soluções baseadas na natureza enfrentam obstáculos para acessar crédito, por falta de garantias e de cobertura de risco adequada. Segundo Contrucci, as apólices atuais do agronegócio não contemplam totalmente esses novos modelos de negócios. Para ele, é essencial que o setor de seguros trabalhe em conjunto com a ciência para gerar dados, medir riscos e precificá-los corretamente para que as soluções de SbN avancem nos próximos cinco a dez anos.
Escalada: Para ampliar as SbN, é preciso criar canais de financiamento e testes rápidos para empreendedores de tecnologia, além incentivar que seguradoras adotem modelos sandbox, que permitem experimentar novas soluções em pequena escala antes de levá-las ao mercado, afirma Cavalcante.
Riscos Futuros: A AXA lançou seu relatório Future Risks, edição 2025, uma pesquisa global que ouviu 3.600 especialistas de 57 países e uma amostra representativa de 23 mil indivíduos de 18 países para classificar os dez principais riscos, com base no seu potencial impacto na sociedade nos próximos cinco a dez anos. Pela primeira vez a seguradora realizou uma versão Brasil do ranking. “Mudanças climáticas” é o risco número um no mundo e no país.
Palavra de empoderador
A indústria fala bem sobre resiliência e adaptação, mas acredito que poderíamos fazer muito mais juntos. E, em primeiro lugar, isso inclui atribuir valor aos benefícios da natureza na redução de riscos
Michael William Beck, diretor do Centro de Resiliência Climática Costeira da AXA Chair in Coastal
Show me the money
Direto de Londres: A tarde começou com um painel cooperativo entre a CNseg e a City of London Corportation, órgão administrativo da capital inglesa, sobre o papel dos seguros para destravar financiamentos climáticos.
Garantias de desempenho: Durante o papo, Tobias Grimm, cientista-chefe do clima e chefe do departamento consultivo sobre clima da Munich Re, falou sobre produtos criados pela seguradora alemã para assegurar o desempenho de tecnologias limpas, como módulos solares, baterias, geotermia e, mais recentemente, eletrolisadores de hidrogênio. Essas garantias ajudaram a reduzir custos e impulsionar o mercado global.
Seguros para carbono: Como o mercado de carbono não está totalmente amadurecido, o setor precisa inovar. Rachel Deleves, diretora de sustentabilidade da Convex Insurance, trouxe uma solução de seguro de armazenamento de carbono da seguradora que foi essencial para que dois projetos de infraestrutura de carbono de alto perfil no Reino Unido (os maiores campos comercializados para transporte e armazenamento) obtivessem suas licenças, permissões e decisão final de investimento. Essa apólice, que abrangeu o risco de contenção e remediação do armazenamento por dez anos, foi crucial. O financiamento envolveu uma parceria público-privada.
Como enfrentar a longevidade
Envelhecimento populacional: O “Fórum de Clima, Vida e Longevidade: Previdência e Segurança Financeira como Aliadas do Desenvolvimento Sustentável” finalizou o dia. O papo, mediado por Edson Franco, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), discutiu caminhos e soluções necessárias para encarar a nova realidade brasileira, um forte e rápido processo de envelhecimento populacional.
O cenário representa pressões importantes sobre os setores de saúde e de seguros. Segundo Franco, primeiro porque haverá cada vez menos contribuintes e mais beneficiários da segurança social. E também porque os modelos de trabalho estão se transformando, há cada vez mais empregos informais e relações mudando por conta do avanço da tecnologia.
Para o presidente da FenaPrevi, é preciso rever os modelos tradicionais de subscrição. “A gente subscreve olhando pelo retrovisor e não necessariamente na velocidade com que as coisas estão acontecendo”, disse. “Tanto do ponto de vista de mudanças climáticas, como do ponto de vista de envelhecimento.” E o setor tem a missão de mudar esse olhar.
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