
Belém – No ritmo atual de emissões, o mundo tem mais quatro anos para gastar todo o orçamento de carbono que permitiria limitar o aquecimento global a 1,5°C em comparação com a era pré-industrial.
Este foi o cálculo apresentado na manhã desta quarta feira pelo Global Carbon Budget (GCB), um projeto que une 120 cientistas de 18 países para calcular quanto CO2 a humanidade ainda pode lançar na atmosfera para manter-se dentro de certos limites de temperatura.
Cerca de 21% do carbono emitido por atividades humanas é absorvido por florestas, e outros 29% pelos oceanos. O restante tem uma meia-vida de centenas de anos, ou seja, segue causando o efeito estufa por séculos.
A equipe de cientistas também faz as contas de quanto tempo duraria o “saldo” restante de carbono para que o planeta atinja 1,7°C e 2°C de aumento de temperatura: 12 e 25 anos, respectivamente.
Estes dois cenários podem causar consequências muito mais graves do que as que o mundo já vem enfrentando hoje.
O cenário, por enquanto, não dá muita margem para otimismo. As emissões de combustíveis fósseis vão crescer 1,1% este ano, segundo a projeção do GCB. Entre 2014 e 2024, elas aumentaram em média 0,8% anualmente.
A queima de petróleo subiu 1%, a de carvão, 0,8% e a de gás natural, 1,3%. Embora seja um ritmo de aumento menor que no início do século, a curva segue apontando para cima.
E a mudança do clima também está afetando a absorção do principal gás de efeito estufa pela natureza. A concentração de CO2 aumentou 8% desde 1960 porque esses sumidouros estão menos eficientes.
Mas Stephen Sitch, professor de geografia física da Universidade de Exeter (Reino Unido) e um dos coordenadores do projeto, apontou alguns pontos positivos este ano, que marca a vigésima edição do orçamento planetário de carbono.
As emissões de transportes caíram ligeiramente por causa da crescente adoção de veículos elétricos. “E 35 economias reduziram suas emissões e ao mesmo tempo cresceram suas economias”, afirmou ele.
Veja abaixo os principais destaques do relatório:
- As emissões da China em 2025 devem aumentar 0,4% – crescendo mais lentamente do que nos últimos anos;
- As emissões da Índia devem aumentar 1,4% – também mais lentamente do que as tendências recentes;
- As emissões devem crescer nos EUA (+1,9%) e na União Europeia (+0,4%) em 2025. As emissões nessas regiões haviam diminuído nos últimos anos, mas o clima mais frio e outros fatores causaram o aumento;
- As emissões devem aumentar 6,8% no setor de aviação internacional (ultrapassando os níveis pré-COVID), e permanecer estáveis no transporte marítimo internacional;
- As emissões totais de CO2 – a soma das emissões fósseis e das mudanças no uso da terra – cresceram mais lentamente na última década (0,3% ao ano), em comparação com a década anterior (1,9% ao ano).
- O orçamento de carbono restante para limitar o aquecimento global a 1,5°C está praticamente esgotado. O orçamento remanescente é de 170 bilhões de toneladas de CO2, equivalente a quatro anos nos níveis de emissões projetados para 2025.