Vista área de floresta tropical densa, parcialmente coberta por nuvens.

Bradesco, BNDES e Fundo Ecogreen anunciaram, nesta terça-feira, 11, a criação de uma certificadora brasileira de créditos de carbono, batizada de Ecora. A certificadora terá a Aecom, uma consultora de engenharia americana que atua em projetos de meio ambiente, como parceira técnica. 

A ideia é reduzir a dependência de certificadoras internacionais para os projetos que geram os créditos. “Acompanhamos as grandes certificadoras mundiais, três americanas e uma suíça, e percebemos que elas também enfrentam dificuldades”, diz Marcelo Noronha, CEO do Bradesco. “Não por erros, mas por aprendizado. Hoje, se você submeter um projeto a uma dessas certificadoras, elas vão te colocar na ‘fila’.”

Para ele, um aspecto muitas vezes não considerado por certificadoras estrangeiras é a questão fundiária do Brasil. “Isso está contemplado na nossa plataforma. É possível chegar ao problema fundiário com tecnologia e bases de dados. Ou seja, o sistema identifica e indica o risco. Se o problema é crítico, o projeto não é certificado”, diz Noronha. 

A operação está prevista para começar em meados de 2026, com foco inicial em metodologias de reflorestamento, conservação e manejo de áreas agrícolas, afirma Vicente Mello, vice-presidente da Aecom.

“As metodologias estão sendo desenvolvidas com especialistas brasileiros e conselhos científicos nacionais e internacionais, seguindo padrões internacionais, mas adaptadas às particularidades dos biomas do país”, diz.

O valor do investimento e a participação acionária dos sócios não foram divulgados. O Bradesco ainda negocia a entrada de outros dois potenciais parceiros na Ecora.

Em março, o BNDES havia feito uma consulta pública para colher opiniões sobre o mercado de certificação de créditos de carbono. A Ecora foi uma das iniciativas inscritas e selecionadas dentro desse processo, segundo Mello. 

Projetos geradores de créditos de carbono florestal, os mais comuns no Brasil, quase sem exceção dependem do carimbo da Verra, uma entidade americana sem fins lucrativos e a maior certificadora do mundo. 

Nos últimos anos, os processos de registro e certificação por parte da Verra têm demorado muitos meses – anos, em alguns casos. Entre os motivos estariam a incapacidade de a empresa lidar com o crescimento da demanda, pouca digitalização e problemas de financiamento.

Noronha e Mello dizem que a participação técnica da Aecom é um diferencial de credibilidade para o negócio. A empresa é responsável, por exemplo, pelo monitoramento independente de Brumadinho, entregando relatórios periódicos ao Ministério Público. “Conseguimos exclusividade do que há de melhor nessa engenharia para desenvolver a certificadora”, diz Noronha. 

“A credibilidade é resultado de rigor técnico, governança transparente e uso de tecnologia para enfrentar desafios como integridade, padronização e controle de informações”, afirma Mello.