
À medida que Belém se prepara para sediar a COP30, o foco sobre a preservação da Amazônia e o papel das florestas tropicais no combate às mudanças climáticas se intensifica. O chamado do presidente da conferência, o embaixador André Corrêa do Lago, é para que o evento transforme discursos em ações concretas, fortalecendo a economia da floresta em pé, comunidades locais e povos indígenas e a bioeconomia.
Há cerca de duas décadas a Agropalma, empresa brasileira referência global em produção sustentável de óleo de palma, atua na Amazônia e comprova, com diferentes iniciativas, que é possível unir desenvolvimento e bons resultados financeiros com conservação e monitoramento da biodiversidade.
Para Tulio Dias Brito, diretor de sustentabilidade da empresa, essa convicção não veio de uma demanda recente de mercado ou regulatória, mas da premissa do próprio negócio da Agropalma: “Entendemos desde o início que a perenidade da nossa operação dependia diretamente da saúde do ecossistema ao nosso redor”.
O ciclo da palma é longo, e ser capaz de prever o comportamento climático ao longo de um futuro não tão próximo é fundamental. “O futuro é algo muito preocupante para o setor”, diz Brito. “Por sua biologia, a palma exige que tomemos hoje decisões cujos resultados vamos colher daqui cinco anos ou mais. Primeiro vem a compra da semente, que só está pronta depois de seis meses. As mudas demoram mais um ano para que possam ser plantadas. E então são mais três anos até começarmos a colher.”
Quanto menos controle e previsão do clima lá na frente, maiores os riscos para o negócio. “Ficamos com plantações estabelecidas por 25 anos”, explica o executivo. “Portanto, além da responsabilidade legal e socioambiental, a Agropalma sempre enxergou sustentabilidade como estratégia de negócio.”
Proteção de florestas: responsabilidade e benefícios
Situada no coração do Centro de Endemismo Belém (CEB), no Pará, a Agropalma adotou em 2002 uma política de conservação ousada. Para cada hectare de palma plantado, a empresa protege 1,6 hectare de floresta nativa.
Esse compromisso resultou na conservação de 64 mil hectares — cerca de 60% dos 107 mil hectares que a empresa possui —, preservados por meio de seu Programa de Proteção de Florestas. Esta é uma das maiores áreas de proteção florestal mantidas por uma empresa privada na região e por uma produtora de dendê no mundo.
A estratégia traz diferentes resultados para o negócio. Um dos benefícios é o controle biológico de pragas e doenças nas plantações de palma. A Agropalma gasta menos de 1% do seu custo de produção com isso – em outras empresas, o valor pode chegar a 10% ou até 15%.
A grande área de floresta preservada próxima às suas plantações cria um agroecossistema com alta biodiversidade e mantém a população de insetos que se alimentam da palma em níveis baixos. ”Nós conseguimos controlar as poucas espécies que resistem com medidas simples e econômicas, como armadilhas feitas de sacos plásticos e usando melaço de cana para atraí-las.”
Ao mesmo tempo, as palmeiras próximas às florestas colaboram para minimizar o chamado efeito de borda. Elas protegem as matas contra agentes de degradação como fogos, ventos fortes e insolação.
Mudanças climáticas: o papel das florestas e das empresas
Outro chamado importante da presidência da COP no Brasil é a participação do capital privado no financiamento da transição climática. Brito concorda que não há caminho possível sem as empresas, mas destaca que isso não exime o poder público de suas responsabilidades. “Precisamos de regulamentações e políticas públicas capazes de coibir o desmatamento e proteger nossas florestas”, diz. “O estado não pode abdicar de seu papel direcionador das estratégias.”
Parcerias púbico-privadas, assim como as de empresas com universidades e outras instituições de pesquisa, são, para o executivo, um caminho importantíssimo. A proteção de suas áreas de florestas é contínua na Agropalma e recebe um investimento anual de cerca de R$ 2 milhões.
A operação conta com guardas florestais permanentes e um sistema de segurança que previne a extração ilegal de madeira, prevenção de queimadas e invasões para desmatamento. O compromisso da empresa, no entanto, vai além da vigilância.
Há mais de 18 anos a Agropalma mantém uma parceria com a Conservation International (CI) para pesquisas, monitoramento e proteção da biodiversidade local. Mais de mil espécies da fauna são acompanhadas. Já foram identificadas na região exemplares de cerca de 40 espécies consideradas ameaçadas de extinção, como o macaco ceebus kaapori e a onça-pintada. “Isso mostra o quanto as florestas da Agropalma são importantes para a conservação da biodiversidade no CEB”, diz Brito.
Outros apoios científicos da Agropalma são com o Programa Anta Amazônia do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), e com o Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Amazônia Oriental (PPBio), coordenado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pela Universidade de Bristol, no Reino Unido.
Os resultados colhidos pela Agropalma servem de exemplo não apenas para o Brasil, mas também globalmente. Na segunda-feira (6), o ex-ministro da agricultura e enviado especial da COP30 com foco em agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou que sua missão é “mostrar ao mundo a eficiência e a capacidade de replicação do agro brasileiro nos trópicos”.
Com os holofotes voltados para a Amazônia durante a conferência, o Brasil terá uma chance única: mostrar soluções e modelos de um agro sustentável e replicável em outros países de clima similar. Como faz a Agropalma.